Paridades e efemérides

No séc V a. C. Péricles terá afirmado que a verdadeira glória para uma mulher é que ninguém fale a seu respeito. Hoje, ao ler a frase, ocorreu-me que o tempo actualiza as ideias de forma bizarra. Retirada do contexto histórico em que foi proferida, traduz na perfeição o que penso sobre aquilo que, em 1910, a Internacional Socialista determinou que se comemorasse no dia 8 de Março. Por princípio não tenho qualquer simpatia por efemérides que diferenciam os seres humanos, seja qual for o pretexto, tal como não aprecio leis que discriminam pessoas em função do género, tanto aquelas que retiravam direitos às mulheres invocando alegadas « diferenças resultantes da (...) natureza e do bem da família"» como as que, apelando à «paridade», garantem igualdades meramente quantitativas. Não vejo razão para afirmar que «as mulheres fazem a democracia melhor», só porque são mulheres, tal como não descortino motivo para aderir àquela ideia do poeta Aragon, de que a mulher é «l'avenir de l'homme». Parecem-me convicções historicamente datadas, «passadistas». Julgo que vai sendo altura das mulheres seguirem em frente.