Somos todos iguais...

Um jornalista da nossa praça perguntou a um advogado, sócio de uma sociedade "mainstream", se esta se sentia “reflectida” na Ordem. Suponho que quereria dizer “representada”, mas adiante…

Resposta: "com certeza que sim, nunca poria isso em causa" (deduzo que se referia à “reflexão” na Ordem), o problema "não é estratégico ou político, é o de ser capaz de responder a uma realidade nova", uma vez que para ele "faz pouco sentido termos com o mesmo peso na OA os verdadeiros profissionais liberais e os outros, a maioria, que são advogados de fim de tarde". Desde logo nos votos (sic).

Reparei ainda que esse mesmo advogado admitia ter abandonado, recentemente, um dos Conselhos da OA "porque não tinha disponibilidade para acumular (essas funções) com a vida na sociedade (dele)".

Fiquei então a pensar se a única justificação para a existência deste "colégio eleitoral" não seria, tão somente, a de permitir a uns quantos, supostamente "mais advogados" que os outros, designar alguém para "governar a casa" por eles. Será que estou a ver bem?

Fair play

"Os adeptos ingleses estão a afastar Portugal como destino de férias após terem sido derrotados pela selecção nacional, no Campeonato do Mundo a decorrer na Alemanha, avançaram hoje vários operadores turísticos, citados pela Bloomberg. 'Na semana passada, Portugal era o quarto destino mais pesquisado, mas desde Sábado a posição caiu para 15º lugar», avançou John Bevan, operador da Lastminute.com, citado pela Bloomberg. Os operadores esperam que este boicote não dure muito'"
(Jornal de Negócios de 4.7.2006)



Como exemplo de "fair play" não está mau ... Fico a pensar que represálias escolheriam se o adversário tivesse sido o Irão.

“My name is Manuel and I’m from Barcelona”

Na LEX do “Jornal de Negócios” da passada quarta feira, dia 28.6, encontrei uma reportagem sobre “Unanimidades e polémicas na advocacia”.

Diz o jornal que dezenas de advogados estiveram reunidos num dia de “debate intenso, com muitas opiniões debates e confrontos”, durante os quais se chegaram a várias conclusões, como por exemplo estas:

Ganhar quota em função do preço é uma aposta errada a médio e longo prazo”;

Ser versalista significa estreitar o caminho que separa o generalista sozinho/mais personalizado, do especialista em sociedade/menos personalizado”.

Lembrei-me então de um empregado de mesa chamado Manuel, que não falava inglês e só sabia dizer “My name is Manuel. I’m from Barcelona and I know nothing”. Manuel era o meu personagem preferido de uma série da BBC, dos anos 70, da autoria do John Cleese, intitulada “Fawlty Towers”, e nunca como agora me senti tão igual a ele.

David 1 - Golias 0

Refere o "New York Times", a propósito da decisão do Supremo Tribunal de Justiça dos EUA no processo HAMDAN v. RUMSFELD, SECRETARY OF DEFENSE, et al, que "o Tenente Comandante da Marinha Charles Swift, advogado do Sr. Hamdan, disse à Associated Press que deu conhecimento da decisão ao seu cliente pelo telefone. “Penso que ele ficou siderado pelo facto do tribunal ter decidido a seu favor, e por ter dado uma oportunidade igual (“equal chance”) a um pequeno homem como ele, ” disse o Comandante Swift. “Do sítio de onde ele vem, isso não existe."

Em duas frases, o Comandante/Advogado Swift sublinhou o que mais relevante há neste caso: a superioridade moral que advém da existência de um sistema de justiça independente; o enorme potencial revolucionário que advém da superioridade moral. Atrevo-me a dizer que depois de conhecer esta decisão, o Sr. Hamdan não voltará a ser o mesmo homem.

Ghandi foi, talvez, quem melhor entendeu estes princípios, e os usou, como uma arma, contra os ingleses, em prol da independência do povo indiano. Não admira. Ghandi também era Advogado.