Mobilar as estantes

Hoje, às voltas no centro comercial, preparando-me para as obrigatórias compras de Natal, deparei com um acervo considerável de livros antigos expostos em novíssimas estantes de uma ultra moderna loja de móveis. Entrei, atraída pelos livros. Descobri um exemplar do «Voltar atrás para quê?» da Irene Lisboa, editado na velhinha colecção Unibolso, este, mais precisamente. Retirei o livro da estante, abri-o para ver o preço, e como não o encontrei no lugar do costume, perguntei «quanto custa?» a um empregado, que por ali andava. «Não está à venda», respondeu-me. «Como não está à venda?!», perguntei, já irritada. «Os livros não estão à venda», insistiu ele, «são da nossa decoradora e estão aqui para "mobilar" as estantes». «Mas como é possível ter um livro como este aqui, apenas para encher uma  estante? A vossa decoradora faz ideia do que aqui tem?» perguntei eu, mais para mim que para ele. O homem mirou-me de alto a baixo, com ar de quem está a pensar «logo hoje, com tanto para fazer, havia de me calhar esta louca!». Conformei-me. Coloquei o livro no lugar e voltei costas. Ouvi um suave gargalhar. Era a minha filha mais nova. « Ó mãe! só tu mesmo...» Pois...

Imaculada Conceição

Li aqui que, de acordo com os resultados de um estudo europeu, as mulheres portuguesas são, na Europa, as que mais valorizam de forma igual a profissão e a família. Ocorreu-me que há precisamente um ano alguém - um homem - escreveu, e eu li: «Antigamente era este o dia da mãe. Depois mudaram o dia. Não mudou a ideia de mãe.» É o que ele julga. Talvez um dia acorde...