Origens



"Tinha eu nove ou dez anos, fomos viver para umas pequenas vivendas na Quinta da Lomba, ao pé do Barreiro, onde tinha aberto uma fábrica de mármores. Foi também para lá viver um casal que ninguém sabia de onde vinha e que tinha dois filhos. A mulher nunca chamava o marido pelo nome e eu, um dia,perguntei ao meu pai quem era aquele senhor. «O vizinho não pode dizer o nome porque é político e a polícia não pode saber que mora aqui». Começámos a chamar-lhe «o vizinho político!». Ele e o meu pai ‘faziam’ as colectividades de recreio de Almada e do Barreiro. No intervalo do baile, eu transformava-me na animadora e recitava poemas infindáveis – parecia uma boneca de corda! Mas as pessoas gostava muito e choravam...Os poemas tinham todos uma moral muito intensa". (Catalina Pestana, em entrevista ao Sol)

Eu nasci no Barreiro, na Rua João de Deus, e também sou filha de um natural de Beja, que veio para o litoral, com cinco anos, nas primeiras revoadas de migração do interior alentejano, e que depois casou com uma neta de outro alentejano, que eu me lembro de ir visitar à Quinta da Lomba, onde ele vivia numa pequena casinha.

Conheci bem essa cultura operária, sindicalista e anticlerical, que produziu gente rija, vertical, gente de causas. Gente que não cede ao medo, que não verga, que não transige. Íntegros. Desassombrados. Admiráveis.

Mais perguntas da "loura"

Li aqui que "O candidato a bastonário Menezes Leitão demitiu-se ontem de vice-presidente do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados em protesto pela 'atitude incorrecta e tratatamento discriminatório das diferentes candidaturas' às eleições."

Pergunta esta "loura":

Que pensar de um advogado, candidato a bastonário, que não consegue levar o órgão, do qual é vice presidente, a respeitar um princípio que a todos parece óbvio?

Pergunta ainda mais burra:

Será que tentou? Ou, confrontado com o facto, limitou-se a bater a porta, com estrondo?

Há regras para além dos códigos

"Há uns anos fui convidado pelo Centro de Estudos Judiciários para fazer uma pequena prelecção sobre Deontologia e Magistratura.
No final, em período de debate, um senhor magistrado questionou-me dizendo que aquele não era um tema pertinente ao desempenho das magistraturas já que a deontologia destas estava vertida nos diversos códigos de processo.
Com efeito, a quem lida com códigos, é por vezes difícil perceber que há mais vida para além deles, que há mais regras para além das que neles constam.
Com efeito, a quem lida com códigos e tem deles a noção pragmática que o quotidiano impõe, não é fácil conceber um acervo de princípios que se radicam na ética e que não gozam do imediatismo da sanção.
À pergunta “É razoável estabelecer princípios de conduta para um serviço público sem eficácia jurídica?”, responderei, inequivocamente, que sim." (...)

(excerto do discurso do Director da Polícia Judiciária, na sessão de abertura do curso de coordenador de investigação criminal)

o "15-9" judiciário

"O procurador-geral da República, Pinto Monteiro, foi obrigado a produzir com carácter urgente uma directiva em que, na prática, manda aplicar o antigo Código de Processo Penal, no que diz respeito à nomeação de advogado para defesa de um detido ou de um arguido. É que a nova lei, se interpretada à letra, retirava ao arguido qualquer hipótese de vir a ser defendido na fase de inquérito, uma lacuna considerada muito grave", afirma o JN.

Desconfio que alguém esqueceu que a portaria prevista na nova lei do apoio judiciário ainda não está em vigor :-)

Razão tem quem afirma que estamos a viver o 15-9 judiciário.