Memória das leituras de Verão

"Olhos,
vale tê-los,
se, de quando em quando,
somos cegos
e o que vemos
não é o que olhamos,
mas o que o nosso olhar semeia no mais denso escuro.

Vida,
vale vivê-la,
se, de quando em quando,
morremos
e o que vivemos
não é o que a Vida nos dá
nem o que dela colhemos,
mas o que semeamos em pleno deserto."

Mia Couto, in "O Outro Pé da Sereia"


Recomendo.

O supremo prémio

"O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos". Quem o afirmou pela primeira vez foi um tal Pitágoras, que nasceu há mais de 2000 anos, na Grécia, em Samos. De como viveu e morreu pouco se sabe, mas as suas ideias, - entre as quais aquela que acima enunciei -, continuam a ser usadas até hoje. Haverá imortalidade maior que esta?

Vem isto a propósito da notícia que o matemático russo Gregori Perelman recusou a "Fields Medal", considerada o prémio Nobel da Matemática, que o Rei Juan Carlos iria entregar-lhe em Madrid, na sessão de abertura do 25º Congresso Internacional das Matemáticas (CIM) (cfr. aqui) .

Em 2003, através de uma simples mensagem que colocou na net, Perelman comunicou ao mundo que tinha resolvido um dos grandes enigmas da Matemática, sem resolução desde 1904, data em que foi enunciado por outro grande matemático, de nacionalidade francesa, chamado Poincaré, mas "recusou-se a dar entrevistas, dizendo que qualquer publicidade seria prematura – ou seja, até que seu trabalho fosse examinado por outros matemáticos".

A recusa do prémio foi, recentemente, justificada pelo próprio nos seguintes termos: "(O prémio) é completamente irrelevante para mim. Qualquer pessoa entende que, se a demonstração estiver correcta, não é necessário nenhum outro reconhecimento".

Evidente, não é? O que me espanta é o espanto. Na verdade, quando se atinge a imortalidade, que importância tem um prémio?

Eficiência britânica

Hoje, onze dias após terem sido detidos pela Polícia britânica, onze dos vinte e três suspeitos de envolvimento no plano para fazer explodir aviões, cuja existência as autoridades do Reino Unido revelaram no passado dia 10, foram formalmente acusados pela Procuradoria daquele país, que esta manhã decidiu que as provas já recolhidas eram suficientes (cfr. aqui).

O prazo para deduzir acusação contra suspeitos de terrorismo, previsto na lei britânica, é, excepcionalmente, de 28 dias. Em Novembro do ano passado o Parlamento recusou uma proposta de lei do Governo, que pretendia aumentar esse prazo para 90 dias (cfr. aqui). Pelos vistos, estava certo: os 28 dias são mais que suficientes.

Rejubilemos, portanto. Neste mundo tresloucado, do lado de cá do Atlântico nem tudo é ameaçador. Apesar das bombas e do medo não existem Guantanamos. Em Londres toda a gente continua a andar no metropolitano e o Parlamento resiste às tentativas de fazer recuar a civilização. Até quando?

I'm back

Duas semanas passadas sobre o meu último "post", depois de uma passeata e de uns banhos de mar, aqui estou outra vez, para descobrir, com alívio, que o meu "Blogger" preferido voltou.

Assim, em vez de comentar o que entretanto se escreveu sobre as férias judiciais (que encontrei aqui,aqui, aqui, e ainda aqui) ou especular sobre se é verdade ou não que as amas pagam mais IRS que os advogados (cfr. aqui) prefiro recomendar a leitura dos "posts" que encontram aqui, na certeza que o resultado é bem melhor.