Livros, «selos» e a arte de «bem resolver»

A Fantástica Livraria da minha infância era composta por muitos livros sobre os anos da Grande Guerra [a II, claro], época histórica da predilecção do meu Pai, e o mundo que daí resultou. Recordo em particular a autobiografia completa do Churchill, meia dúzia de volumes encadernados a vermelho, em inglês, sobre os quais passava às vezes o olhar, atraída pela beleza da encadernação e o cheiro do papel, e não propriamente pelo conteúdo. Quanto a este, a minha preferência ia para os livros panfletários de Leon Uris sobre a Palestina e a saga dos judeus, durante e após a Guerra. Foi através do «Exodus» - adaptado ao cinema um ano antes de eu nascer - que fiquei a saber o que era um kibbutz, o sionismo, Ben Gurion, o Palmach, e foi esse mesmo livro, «Exodus», que despertou o meu interesse por Israel, a Guerra do Yom Kippur e uma Senhora chamada Golda Meir.
Golda Meir foi primeiro ministro de Israel entre 1969 e 1974, secretário geral do Partido Trabalhista, e antes disso, ministro dos negócios estrangeiros e ministro do trabalho e segurança social. Conta-se que gostava de ponderar as decisões difíceis recolhida na sua cozinha, areando a chaleira. Também se diz que gostava de cozinhar e era frequente dar de comer a quem a visitava, mesmo em assuntos de trabalho. Achava que não havia nada de especial em ser, simultâneamente, primeiro ministro, dona de casa e avó. Sadat, o mítico Presidente do Egipto, designava-a por «Old Lady», como ela própria um dia lhe recordou, aqui. Não consta que alguma vez tenha precisado de «quotas» para fazer tudo o que fez, ao longo da vida. Considero-a, desde a mais tenra adolescência, o exemplo emblemático do que é ser uma «mulher bem resolvida». À minha maneira, e numa escala bem mais modesta, é o exemplo de «bem resolver» que tenho procurado seguir e aquele que aqui deixo apontado, numa interpretação livre das «obrigações» decorrentes desta simpática e amiga distinção, que me foi imposta pela Patrícia! Saravah Patrícia!