"Depois de comprar uma camisola, um perfume, ou até de comer uma sopa num centro comercial, já pode entrar na loja ao lado e adquirir também o serviço de um advogado.(...)
A tradição já não é o que era. Até agora, a advocacia caracterizava-se pelo seu manifesto interesse público e função social, exercida por profissionais distantes. Questionada sobre se este tipo de comercialização de serviços é compatível com aquele estatuto, Sofia de Almeida Ribeiro assegura que 'a Loja Jurídica é um projecto de justiça que assenta na necessidade de servir' e afirma que também reivindica o exercício da advocacia como uma função social. 'A única diferença em relação à advocacia tradicional é a maior proximidade com o público', disse." (in DN)
No Jornal de Negócios de hoje encontrei o "perfil" da Dra Sofia de Almeida Ribeiro, que passo a transcrever:
"É advogada e possui experiência em operações de fusões e aquisições num contexto internacional, bem como na estruturação de operações de financiamento de projectos. É consultora de empresas com actividades nos sectores de produção e distribuição de produtos alimentares, de software e de telecomunicações. Licenciada em direito pela Faculdade de Direito da Universidade Católica, possui ainda uma pós-graduação em Direito do Ordenamento, do Urbanismo e do Ambiente pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. LLM em Direito Internacional e Comunitário do Ambiente pela London University (Soas), no seu currículo consta ainda uma pós-graduação em Gestão de Negócios pela Internet, concluída no Instituto de Desenvolvimento, Cooperação e Formação Contínua da Universidade Católica."
Percebi, então, melhor de onde lhe vem essa ideia de falta de "proximidade" entre o cliente e o dito "advogado tradicional".
Já eu, ainda que licenciada pela mesma Universidade, não tenho, de perto ou de longe, um curriculum assim impressionante. Deve ser por isso que, para mim, a "proximidade" dos clientes não constitui qualquer problema... :-)
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8 comentários:
Apesar de ser um jovem advogado e ter uma mentalidade mais moderna e mais receptiva a certas mudanças, desde que benéficas, custa-me muito a aceitar este conceito de "loja jurídica".
Sinónimos de Loja:
Cave
Estabelecimento
Arrecadação
Oficina
Bazar
Venda
Nem sei que dizer mais...Vou publicitar o meu CV, pode ser que me assalariem para aí...
Dói-me a cabeça e o Universo
Fernando Pessoa
Cara Dr.ª Nicolina, já pensou que, eventualmente, será a falta desse estudo que a Dr.ª Sofia de ALmeida Ribeiro fez e que se reflecte no seu CV, é que não lhe permite perceber a grandeza que pode ser este projecto para os cidadãos! Ou será eventualmente a consciência que tem da sua falta de estudo que a leva a temer aquele mesmo projecto?
Caro Anónimo,
De facto, "fusões e aquisições num contexto internacional" não é matéria que me entusiasme, e por isso nunca trabalhei nessa área.
Quanto ao projecto, não vejo que haja razão para temer o que quer que seja, pelo menos da minha parte.
Aliás, a única coisa que eu temo é a minha própria consciência e essa, felizmente, nada me aponta :-)
Hummmm, estou mesmo a imaginar o vulgar cidadão, comerciante de loja de doces, a sair da Loja dos Perfumes para ir comer uma bucha no piso térreo, a pensar que se calhar o melhor era entrar na "Loja Jurídica" para tratar da fusão com aquela loja que vende caramelos, logo à entrada de Badajoz.
Será avisado? Corre o risco de o cliente do lado ouvir a ideia dele...
E se em vez de loja for ágora?
vAi lá ver os sinónimos e dps avisa o pessoal.
O medo é ridículo, a inveja tb...
Não consigo perceber quais as objecções em relação àquele escritório.
O facto de ser denominado "Loja Jurídica" pode contender um pouco com as regras relativas à publicidade e à denominação dos escritórios (que ou têm o nome dos advogados ou o nome da sociedade.
Mas as outras considerações são muito difíceis de entender.
O Rogério Alves até não é anti-advogados, mas deixa-se manipular pelos membros da sua equipa. Nem se apercebe do que se está a passar na Ordem dos Advogados. Quando verifica o que acontece, conforma-se e submete-se.
este artigo realmente não me convence!Primeiro, porque a crítica à afirmação de que este projecto teria por efeito uma maior "proximidade com o público", consistindo ai a novidade quanto ao anteriormente feito na área da advocacia, baseia-se numa interpretação incorrecta da mesma.De facto, a proximidade quanto ao público não consiste em mais que não uma maior visibilidade do escritório em si, de uma perspectiva económica.E a ideia de que a prática da advocacia consiste num serviço público, de tal forma que estas práticas comercias não se coadunam com a sua "dignidade" é, desculpe que o diga, e referindo-me apenas à ideia em si, rídicula.De facto, só se poderia falar num verdadeiro serviço público no caso de todos os advogados receberem o mesmo, segundo uma tabela de preço (a hora, por exemplo, e por determinados serviços um preço fixo).Com o sistema actual, as pessoas com mais recursos têm acesso aos melhores advogados, enquanto que as que têm menos recursos só podem contar com os serviços de advogados oficiosos, que trabalham quase pro bono, muitas vezes em ínicio de carreira, ou com elevada quantidade de trabalho em cima.E desta forma, não existe muito mais que um mercado do direito (pouco digno, diga-se de passagem!).A igualdade expressa na lei não se reflecte na justiça, na prática do direito.Portanto, colocar este serviço (enquanto termo económico) mais perto dos cidadãos de forma a atrair mais clientes não tem em si nada de mal, ou é tão mau como colocar uma placa na varanda, já que a dignidade, essa, míngua.
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