É possível recorrer à Literatura para ensinar Direito? A resposta é sim, o exemplo está aqui. Leiam e descubram como Iago, o temível intriguista da peça «Othello», de Shakespeare, cometeu o crime perfeito. Mas será que os estudantes de Direito portugueses ainda sabem quem é Iago, Othello, Shakespeare? Será que tem razão quem defende que está na «altura de invertermos a pirâmide do nosso sistema educativo remetendo muitos dos nossos licenciados para os saberes da antiga 4.º classe» [expressão que retirei de um comentário ao post Bolonha, o paradigma perdido, de Rui Baptista, que encontrei no De Rerum Natura]? E se a resposta for sim, no que aos Advogados concerne, será que esta é a melhor solução? I wonder...
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3 comentários:
Começo por agradecer a transcrição da minha frase. Passe o exagero nela contido com a intenção de recriminar a falta de bases de natureza cultural dos alunos do ensino superior com génese numa instrução primária (hoje chamada de 1.º ciclo do ensino básico) altamente deficiente.
Aliás, deste estado caótico dou notícia num outro post no “De Rerum Natura”, intitulado “O exame nacional de filosofia” (23/07/2007). Nele critico o desprezo a que foi votada a Filosofia no currículo do ensino secundário. Transcrevo excertos finais:
“A facilitação em deixar passar os alunos sem testar os conhecimentos adquiridos em exames nacionais nos diversos graus de ensino conduziu a população escolar portuguesa à crítica demolidora de Vasco Pulido Valente: “Um ensino, em particular ensino superior, ineficiente e caótico e, além disso, irreformável”!
Na verdade, chegou-se a níveis de ignorância que campeiam entre os próprios diplomados do ensino superior e que não são escamoteáveis por mais tempo, pese embora, como escreve Mario Perniola, professor de Estética da Universidade “Tor Vergata” de Roma, “haver sempre uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a solenizar as tolices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a conceder entrada às imbecilidades no ensino de todas as ordens e graus, pensando que fazem obra democrática e progressista, que vão ao encontro dos jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.
Numa altura em que novas (e, ainda mais, facilitadoras!) formas de acesso a escolas de ensino superior se divisam no futuro prenunciando técnicos despojados de uma necessária formação cultural - a que a leitura constante de textos literários e a reflexão filosófica conduzem - e em que a quantidade de diplomados pelo ensino superior supera em muito a sua qualidade, os claustros universitários devem manter-se como guardiães esforçados da Cultura Humanística, do Conhecimento Científico e da Investigação Pura e Aplicada. Num contexto de elevada qualidade e numa tradição multissecular na formação de elites!”
Obrigada pelo seu comentário.
Estou inteiramente de acordo consigo. Hoje em dia é frequente encontrar licenciados em Direito que, chamados a reflectir sobre um determinado assunto, não conseguem ir além da reprodução das «conversas de mesa de café», as mais das vezes numa linguagem confrangedoramente pobre. Também a mim parece evidente que as lacunas na formação vêm do ensino básico onde, ano após ano, o nível de exigência é cada vez mais baixo. Temo, até, que o alargamento da escolaridade ao 12.º ano liquide o que resta da exigência que em tempos, se praticava...
Finalmente, estou igualmente de acordo quanto ao carácter imprescindível da formação Humanística, em geral, e da Filosofia em particular, seja qual for a área de interesses do licenciado porque a Filosofia é uma ferramenta fundamental para um exercício competente do livre arbítrio que, por sua vez, é condição sine qua non para a existência de cidadãos, na verdadeira acepção do termo. Se isto é ser elitista, então serei, com muito gosto! :-)
... quando falo em escolaridade, refiro-me ao alargamento da escolaridade obrigatória ao 12.º ano, como é óbvio. As minhas desculpas pela omissão.
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