Sergio Costa/AFP, respigado aqui
Estive em Maputo em 2005. No dia em que voltei, pela manhã, em passeio pela marginal, encontrei um rapazinho (6/7 anos?), olhar triste, que queria vender-me um passarinho, preso numa gaiola. Era tão novinho que não resisti a perguntar-lhe se estava sozinho. Ficou imediatamente desconfiado. Disse-me que vivia com o avô e apontou para longe. Expliquei-lhe que não era dali, que regressava de avião naquele mesmo dia, e que não podia levar animais comigo. Mais desconfiado ficou. Propus-lhe, então, o seguinte negócio: eu dava-lhe o dinheiro e ele soltava o passarinho. Fitou-me, incrédulo, e eu acabei por lhe entregar o dinheiro sem contrapartidas. Aquele olhar, triste e desconfiado, ficou-me para sempre na memória. Lembrei-me dele quando li que morreram crianças nos motins desta semana. Voltei a lembrar-me dele, agora, lendo esta notícia, da qual retirei a foto. Por onde andará o meu pequeno passarinheiro?
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