"Bolonha exige uma mudança de paradigma na forma de ensinar e aprender com o objectivo de tornar os alunos independentes e autónomos. Só que os estudantes chegam ao ensino superior a reproduzir os manuais, observa Maria de Lurdes Correia Fernandes, vice-reitora da Universidade do Porto. 'Eles não estão habituados', queixa-se". (in Público)
Os alunos não estão habituados, os docentes menos, e os de Direito menos ainda...
Por isso temo que, no que respeita ao Direito, esta mudança de paradigma não vá além dos patéticos títulos e não passe de uma forma hábil de resolver o problema de financiamento das universidades, numa área em que a oferta de licenciados há muito excedeu a procura e, não obstante, as universidades são mais que muitas.
Confesso que já estou muito cansada deste tipo de discurso. Acho que é tempo de mudar o rumo.
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2 comentários:
Dr.a Nicolina Cabrita,
trata aqui de um problema muito complexo.
Não é possível reconduzir os problemas do ensino a uma ou duas causas.
Licenciei-me numa escola muito tradicional (a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra), onde concluí pós-graduação e mestrado e onde também sou aluno de doutoramento.
O ensino em Coimbra tinha - e tem - alguns defeitos, mas não na extensão que por vezes se afirma.
A sua maior virtude é dar uma formação teoricamente muito sólida (essencial a uma boa aplicação prática).
O principal defeito é, em algumas disciplinas, não estabelecer uma ponte suficientemente forte entre a teoria e a prática, para que os alunos possam ganhar a sensibilidade para o direito enquanto instrumento para resolver problemas concretos.
O sistema de Bolonha está pensado essencialmente para as ciências, sendo depois "martelado" para as outras áreas.
Tal não significa que, do seu espírito não possam retirar-se algumas boas ideias para melhorar o ensino do Direito.
Pessoalmente, não imponho aos meus alunos o débito de teorias e posições e a adesão acrítica a alguma delas. Pelo contrário, faço por ilustrar apenas as divergências que tragam reais consequências práticas. Sempre que posso (como sei que passa pelo meu blog, notará isso) apresento-lhes casos reais e insisto sempre para que compreendam a utilidade concreta das normas e os problemas que são aptas a resolver.
Se há algo de bom a retirar de Bolonha é a lembrança de que o Universidade deve conciliar a formação teórica com o espírito crítico e a orientação para a prática. Não têm os alunos que sair da Universidade "uns práticos", mas têm que sair dela preparados para sê-lo.
Há aqui outro lado: a necessidade de o aluno ter presisposição para o juízo crítico.
Mas isso é toda uma outra conversa...
Cumprimentos. Até breve!
Nuno Lemos
Caro Dr. Nuno Lemos Jorge,
Estou de acordo consigo quando refere que a função da universidade é dar uma boa formação teórica aos alunos, por forma a que eles possam tornar-se, depois, bons práticos. Ou seja, a função da universidade é transmitir o "saber". O "saber fazer" caberá, depois, à formação profissonal, que exige um tipo de aprendizagem completamente diferente. E também me parece que se se misturar estas duas coisas, que são distintas, vamos acabar por não ter, nem um bom ensino, nem uma boa formação profissional, ou seja, isso só vai dar em prejuízo para as duas.
Coisa diferente é orientar o ensino por forma a que os alunos sejam obrigados a pensar pela própria cabeça, e era a isso que eu me referia no meu "post", quando afirmei que, muito provavelmente, os alunos de Direito serão, de todos, aqueles que o fazem menos. E a meu ver essa "lacuna" está directamente relacionada com a forma como se continua a ensinar nas nossas universidades de Direito. Porque se o ensino fosse diferente, aqueles que não têm predisposição para pensar acabariam por ficar pelo caminho, e ambos sabemos que não é isso que acontece...
Obviamente, estou a falar em termos gerais e concedo, sem qualquer dificuldade, que há honrosas excepções e por aquilo que tenho lido, estou certa que as suas aulas de processo civil estarão entre elas.
Melhores cumprimentos
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