Origens
"Tinha eu nove ou dez anos, fomos viver para umas pequenas vivendas na Quinta da Lomba, ao pé do Barreiro, onde tinha aberto uma fábrica de mármores. Foi também para lá viver um casal que ninguém sabia de onde vinha e que tinha dois filhos. A mulher nunca chamava o marido pelo nome e eu, um dia,perguntei ao meu pai quem era aquele senhor. «O vizinho não pode dizer o nome porque é político e a polícia não pode saber que mora aqui». Começámos a chamar-lhe «o vizinho político!». Ele e o meu pai ‘faziam’ as colectividades de recreio de Almada e do Barreiro. No intervalo do baile, eu transformava-me na animadora e recitava poemas infindáveis – parecia uma boneca de corda! Mas as pessoas gostava muito e choravam...Os poemas tinham todos uma moral muito intensa". (Catalina Pestana, em entrevista ao Sol)
Eu nasci no Barreiro, na Rua João de Deus, e também sou filha de um natural de Beja, que veio para o litoral, com cinco anos, nas primeiras revoadas de migração do interior alentejano, e que depois casou com uma neta de outro alentejano, que eu me lembro de ir visitar à Quinta da Lomba, onde ele vivia numa pequena casinha.
Conheci bem essa cultura operária, sindicalista e anticlerical, que produziu gente rija, vertical, gente de causas. Gente que não cede ao medo, que não verga, que não transige. Íntegros. Desassombrados. Admiráveis.
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1 comentário:
A este propósito gostei muito de ver o filme "Julgamento".
Parabéns pelo texto.
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